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Inovação no tratamento de Dor Crônica: Como uma Startup Brasileira Está Transformando a Reabilitação Digital

Na linha de frente do empreendedorismo e da inovação, a WIGO tem o prazer de apresentar uma série exclusiva dedicada às mentes brilhantes por trás das startups de biotecnologia mais promissoras do Brasil. Nosso objetivo é não apenas iluminar o caminho da inovação, mas também fortalecer o vibrante ecossistema de empreendedorismo em nosso país.

Hoje, estamos especialmente empolgados em receber Lucas Melo, MD, PhD, fundador e CEO da Straloo. Dr. Melo, com sua expertise como médico ortopedista, identificou um desafio crítico na saúde que está sendo revolucionado pela tecnologia. Através da Straloo, ele promete resolver um enorme problema de saúde pública utilizando o conceito de reabilitação digital, possivelmente impactando a vida de milhares de pacientes.

E quando a dor a ser atacada é, literalmente, dor? 

Os problemas musculoesqueléticos (MSK) representam um desafio global crescente, afetando 1,71 bilhão de pessoas e sendo a principal causa de incapacidade no mundo[1]. Esta prevalência não apenas compromete a qualidade de vida dos indivíduos, mas também implica em um custo financeiro significativo. Segundo a McKinsey[2], os custos assistenciais com ortopedia nos EUA estão entre os maiores e mais crescentes, dominando os gastos em planos de saúde empresariais. Anualmente, eles variam de $350 a $400 bilhões, representando cerca de 10% dos gastos totais com saúde no país, com expectativa de aumento conforme o envelhecimento populacional[3]. 

No Brasil, a situação não é diferente. Os gastos com cirurgias de coluna, por exemplo, cresceram 540% em dez anos[4]. Esse aumento está intrinsecamente ligado ao envelhecimento populacional. Dados do último censo do IBGE indicam que a população idosa, com 60 anos ou mais, constitui 15,6% do total, um aumento de 56% em relação a 2010[5]. Como exemplo, pode-se ver a curva de prevalência de artrose de joelho, com aumento significativo após os 50 anos[6].

Em janeiro/24, o impacto dos problemas musculoesqueléticos ganhou destaque em um dos maiores veículos de mídia do Brasil após a divulgação dos dados do Ministério da Previdência Social sobre afastamento pelo INSS em 2023[7].

15 das 20 principais doenças que levam ao afastamento pelo INSS são musculoesqueléticas, com destaque para a hérnia de disco e dor nas costas no topo do ranking. Isso gera um impacto significativo para as empresas, tanto pelo absenteísmo e perda de produtividade destes colaboradores, como o custo financeiro, já que as empresas são responsáveis por, aproximadamente, 70% da saúde suplementar no Brasil.

Como virar o jogo?

Esses números destacam a urgência em reavaliar as estratégias atuais para o tratamento de problemas musculoesqueléticos (MSK). Uma revisão publicada no BMJ[8] revela uma lacuna preocupante: 8 das 10 cirurgias ortopédicas mais realizadas poderiam ser evitadas com um tratamento conservador adequado. Este dado evidencia um gap significativo na oferta de tratamentos não-cirúrgicos eficazes, abrindo um caminho promissor para a tecnologia como ferramenta essencial na entrega desses tratamentos.

A reabilitação digital já está transformando o cenário da saúde. Plataformas de saúde digital focadas em problemas MSK demonstram resultados promissores, com reduções significativas de dor [9], diminuição na intenção de realizar cirurgias e uma queda no uso de medicações[10]. A tecnologia e o cuidado remoto emergem como elementos-chave para a adoção em larga escala de um tratamento de reabilitação mais adequado e eficiente. No Brasil, o absenteísmo em sessões de fisioterapia tradicional pode atingir índices superiores a 70%[11], um desafio que a reabilitação digital pode superar, facilitando o acesso e a continuidade do tratamento, além de proporcionar mais comodidade aos pacientes.

Transformação digital na saúde 

O setor de saúde tem passado por uma transformação digital acelerada, especialmente devido à pandemia. A adoção de tecnologia e telemedicina tornou-se parte da rotina assistencial, e essa tendência aumentou após a pandemia. Sem dúvidas, o mercado de saúde nunca esteve tão aberto aos benefícios que a tecnologia pode trazer aos processos assistenciais, através do ganho de eficiência. A crise profunda na saúde suplementar brasileira, apontada como a mais desafiadora em 30 anos[12], pode ser uma oportunidade para a implementação de mudanças. 

Há uma real oportunidade no desenvolvimento de produtos de base tecnológica para a saúde, tanto é que a "a16z" (Andreessen Horowitz), um dos fundos de venture capital mais conceituados do mundo, trouxe a seguinte reflexão: "We think the biggest company in the world will be a consumer health tech company"[13]. O Brasil, por ter o maior sistema de saúde público do mundo, emerge como um ambiente propício para o surgimento de health techs que poderão disruptar o setor. 

Focar em verticais especializadas, como MSK, pode ser o caminho para desbloquear o verdadeiro potencial da inteligência artificial (IA) em saúde. A transformação prometida pela IA não ocorrerá de imediato. Durante este processo, é fundamental desenvolver e aplicar IA com um conhecimento profundo em áreas específicas, garantindo assim soluções que realmente atendam às necessidades dos pacientes e complexidades do setor.

Escalando o Digital Health Musculoesquelético no Brasil 

A Straloo, plataforma de digital health para tratamento de problemas musculoesqueléticos, entende a importância de enfrentar o maior desafio das soluções digitais: garantir o engajamento efetivo dos pacientes. Reconhecendo que o sucesso terapêutico está diretamente ligado à participação ativa do paciente, a Straloo faz do engajamento o cerne de suas iniciativas. "Nosso objetivo é revolucionar não só as metodologias de tratamento, mas também a maneira como os pacientes interagem e se engajam com suas próprias jornadas de saúde". 

"Não é suficiente apenas tropicalizar teses dos EUA e Europa; é crucial compreender as peculiaridades culturais e as especificidades do mercado de saúde brasileiro para realmente engajar os pacientes. Na Straloo, percebemos a tecnologia não como um objetivo em si, mas como um meio para intensificar nosso envolvimento e cuidado contínuo com os pacientes. Encorajamos ativamente que eles compartilhem suas experiências e o que efetivamente funciona para eles. A tecnologia nos possibilita transcender os limites dos contatos pontuais, permitindo interações contínuas e múltiplas, o que é, sem dúvidas, revolucionário." 

CEO da Straloo, Lucas Melo

WIGO Takeaway

Diante do desafio crescente imposto pelos problemas musculoesqueléticos (MSK) globalmente, com impactos significativos tanto na qualidade de vida dos indivíduos quanto nos custos para os sistemas de saúde, torna-se imperativo adotar soluções inovadoras e eficientes. A reabilitação digital se destaca como uma resposta transformadora a essa necessidade, facilitando o acesso e a continuidade dos tratamentos. 

Com isso em mente, destacamos as mensagens-chave que resumem não apenas os desafios enfrentados, mas também as oportunidades e estratégias que podem ser adotadas para transformar efetivamente o cuidado com a saúde musculoesquelética: 

  1. Necessidade de inovação no cuidado MSK: a necessidade de abordagens inovadoras no tratamento de problemas musculoesqueléticos é crítica, dada a sua prevalência e impacto econômico.

  2. Eficácia da reabilitação digital: a reabilitação digital demonstrou ser eficaz na redução da dor, na diminuição da necessidade de cirurgias e no uso de medicações, com diversos clinical trials publicados.

  3. Engajamento dos pacientes: o sucesso terapêutico está intrinsecamente ligado ao engajamento ativo do paciente, que deve ser o foco central de qualquer health tech.

  4. Adaptação cultural e tecnológica: a adaptação das soluções de saúde digital às especificidades culturais e de mercado do Brasil é fundamental para o sucesso e engajamento dos pacientes.

  5. Potencial da IA em saúde: apostamos que a especialização, em áreas específicas como a musculoesquelética, é a estratégia vencedora para a aplicação de IA na saúde com geração de valor real para os pacientes.

Fontes:

1. Cieza A, Causey K, Kamenov K, Hanson SW, Chatterji S, Vos T. Global estimates of the need for rehabilitation based on the Global Burden of Disease study 2019: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2019. Lancet. 2021;396: 2006–2017.

2. Singhal S, Finn P, Stueland J. Innovating employee health: Time to break the mold? McKinsey & Company; 10 Sep 2021 [cited 15 Nov 2022]. Available: https://www.mckinsey.com/industries/healthcare-systems-and-services/our-insights/inno vating-employee-health-time-to-break-the-mold

3. Khanna V, Rayasam M, Ruff J, Shah A, Singh P. Improving US orthopedic care via patient-centric pathways. McKinsey & Company; 14 Sep 2023 [cited 8 Dec 2023]. Available: https://www.mckinsey.com/industries/healthcare/our-insights/improving-us-orthopedic-ca re-via-patient-centric-pathways#/

4. Foster NE, Anema JR, Cherkin D, Chou R, Cohen SP, Gross DP, et al. Prevention and treatment of low back pain: evidence, challenges, and promising directions. Lancet. 2018;391: 2368–2383.

5. IBGE. Censo 2022: número de pessoas com 65 anos ou mais de idade cresceu 57,4% em 12 anos. In: Agência de Notícias - IBGE [Internet]. 27 Oct 2023 [cited 19 Dec 2023]. Available:

https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias /38186-censo-2022-numero-de-pessoas-com-65-anos-ou-mais-de-idade-cresceu-57-4- em-12-anos

6. Cui A, Li H, Wang D, Zhong J, Chen Y, Lu H. Global, regional prevalence, incidence and risk factors of knee osteoarthritis in population-based studies. EClinicalMedicine. 2020;29. doi:10.1016/j.eclinm.2020.100587

7. Hérnia de disco e dor lombar lideram causas de afastamento do trabalho no Brasil; veja o ranking. In: G1 [Internet]. 12 Jan 2024 [cited 16 Jan 2024]. Available: https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2024/01/12/hernia-de-disco-e-dor-lomba r-lideram-causas-de-afastamento-do-trabalho-no-brasil-veja-o-ranking.ghtml

8. Blom AW, Donovan RL, Beswick AD, Whitehouse MR, Kunutsor SK. Common elective orthopaedic procedures and their clinical effectiveness: umbrella review of level 1 evidence. BMJ. 2021;374: n1511.

9. Bailey JF, Agarwal V, Zheng P, Smuck M, Fredericson M, Kennedy DJ, et al. Digital Care for Chronic Musculoskeletal Pain: 10,000 Participant Longitudinal Cohort Study. J Med Internet Res. 2020;22: e18250.

10. Costa F, Janela D, Molinos M, Lains J, Francisco GE, Bento V, et al. Telerehabilitation of acute musculoskeletal multi-disorders: prospective, single-arm, interventional study. BMC Musculoskelet Disord. 2022;23: 29.

11. Beltrame SM, Oliveira AE, Santos MAB dos, Santos ET. Absenteísmo de usuários como fator de desperdício: desafio para sustentabilidade em sistema universal de saúde. Saúde debate. 2020;43: 1015–1030.

12. A crise na saúde suplementar. In: Anahp [Internet]. 19 May 2023 [cited 6 Aug 2023]. Available: https://www.anahp.com.br/opiniao-anahp/artigos/a-crise-na-saude-suplementar/ 

13. Wolf D, Pande V. The biggest company in the world. In: Andreessen Horowitz [Internet]. 11 Nov 2022 [cited 6 Aug 2023]. Available: https://a16z.com/2022/11/11/the-biggest-company-in-the-world/

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