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Vacina contra cocaína: A ciência por trás da possível maior arma na guerra contra o narcotráfico
WIGO - What Is Going On na Saúde.


A evolução dos sensores e a Inteligência Artificial revolucionam a saúde e biotecnologia. Sensores coletam informações vitais para prevenir e tratar doenças. Além disso, a IA abre novos horizontes, que no passado eram hipoteticamente discutidos. Com os avanços cada vez mais rápidos, a ética vai ser um ponto chave em qualquer discussão. A partir de agora, frequentemente substituiremos a pergunta "posso fazer isso?” por “devo fazer isso?".
Nesta edição:
⚕️Nova tecnologia Brasileira do SUS é capaz de diagnosticar e tratar câncer de pele no mesmo dia
💉Vacina contra cocaína: A ciência por trás da guerra contra o narcotráfico
⚗️Neko Health - A startup de saude do fundador do Spotify
Nova tecnologia Brasileira do SUS é capaz de diagnosticar e tratar câncer de pele no mesmo dia

O SUS incorporará uma terapia fotodinâmica desenvolvida pelo Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo para o tratamento do câncer de pele. A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) recomendou a adoção do aparelho, que permite diagnosticar e tratar o tumor no mesmo dia, evitando procedimentos dolorosos e mutilações.
Falando um pouco de "tecniques", a terapia fotodinâmica é indicada para pacientes com câncer de pele não melanoma do tipo carcinoma basocelular superficial e nodular, especialmente quando a cirurgia não é recomendada. O tratamento é de baixo custo, fácil produção e funciona com um medicamento fotossensibilizante em creme aplicado na lesão, seguido de irradiação com luz de comprimento de onda adequado para destruir o tumor. Além disso, ensaios clínicos indicaram altas taxas de cura da doença após o tratamento, mantendo a recidiva mínima.
Em resumo, uma alternativa maravilhosa aos tratamentos atuais deste tipo de câncer. Sendo uma opção não somente mais barata, como mais simples, o que facilita o acesso ao tratamento. Outro ponto importante é que o procedimento é ambulatorial e pode ser realizado no consultório médico, não exigindo grande infraestrutura.
Segundo a diretora do Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde, Luciene Bonan, as universidades brasileiras têm papel fundamental na inovação, suprindo as necessidades do SUS e contribuindo com pesquisa, desenvolvimento e incorporação de novas tecnologias. Ainda, de acordo com a Conitec, esse foi o primeiro pedido de incorporação de uma tecnologia no SUS feito por uma universidade, o que é um ponto extremamente positivo para fortalecer o ambiente de biotecnologia brasileiro.
WIGO Takeaway: A incorporação da terapia fotodinâmica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tem o potencial de contribuir significativamente para o acesso à saúde e o tratamento do câncer de pele em locais de difícil acesso e em cenários de prevalência crescente da doença.
Um segundo ponto interessante é que o tratamento pode ser realizado no próprio consultório médico. Isso significa que pacientes em áreas remotas ou sem infraestrutura adequada podem receber o tratamento sem a necessidade de deslocamento para grandes centros médicos, tornando o tratamento mais fácil e acessível.
Além disso, financeiramente o tratamento parece ser promissor. O fato de o tratamento ser de baixo custo e de fácil produção é vantajoso para políticas de saúde pública, já que possibilita a oferta de tratamento a um maior número de pacientes, mesmo em áreas remotas, além de custar menos para o contribuinte.
Ainda sob a ótica financeira, considerando que o carcinoma basocelular é o tipo mais frequente de câncer de pele, e que sua prevalência deve aumentar no futuro devido ao envelhecimento contínuo da população, a adoção da terapia fotodinâmica pelo SUS pode ajudar a enfrentar o aumento na demanda por tratamentos eficazes, bem como reduzir a prevalência da doença avançada. Isso significa, não somente um custo mais baixo para o SUS, mas mais importante, uma população mais saudável e com maior longevidade.
Vacina contra cocaína: A ciência por trás da guerra contra o narcotráfico

O vício em drogas, em especial cocaína é um problema de saúde pública global que afeta milhões de pessoas direta e indiretamente. A vacina contra a cocaína, que induz o sistema imunológico a produzir anticorpos que se ligam às moléculas da droga, surge como uma esperança para combater esse problema. Esses anticorpos criados pela vacina impedem a cocaína de atravessar a barreira hematoencefálica (uma membrana que “filtra” o sangue para cérebro), bloqueando assim os efeitos da droga no usuário.
Várias estrategias têm sido exploradas para desenvolver uma vacina eficaz desde o início dos anos 2000, incluindo o uso de diferentes fragmentos da molécula da cocaína e a adição de adjuvantes para aumentar a resposta imune. No entanto, os desafios permanecem, incluindo a necessidade de induzir altos níveis de anticorpos eficazes contra a cocaína em humanos, o risco de overdose se o usuário aumentar a dose e questões éticas complexas relacionadas à vacinação contra uma droga ilegal.
A aplicação mais promissora de uma vacina contra a cocaína é prevenir a recaída na dependência em usuários abstinentes que voluntariamente entram em tratamento, e hoje não há tratamento farmacológico eficaz. No entanto, qualquer uso de uma vacina para tratar viciados em cocaína sob coerção legal levanta questões éticas importantes.
Novas tecnologias, como adjuvantes sintéticos, nanopartículas e rotas de administração não injetáveis (administração nasal), estão sendo exploradas para melhorar as vacinas anti-cocaína, como por exemplo a nova formulação criada por Herman Staats, Ph.D., professor no departamento de Patologia e professor associado de Imunologia na Duke School of Medicine que mostra resultados promissores em ratos.
O impacto potencial dessa vacina é enorme. Se eficaz, ela poderia oferecer uma nova abordagem terapêutica para tratar a dependência de cocaína, que atualmente é principalmente gerenciada através de intervenções psicossociais. Isso poderia revolucionar o tratamento da dependência de cocaína, fornecendo uma opção de tratamento farmacológico.
Apesar de promissora, uma vacina eficaz contra a cocaína ainda exigirá muitos anos de pesquisa para superar os obstáculos técnicos, éticos, e regulatórios. A ideia é que, quando disponível, ela não substituirá, mas complementará as abordagens comportamentais para combater o complexo problema da dependência. O desenvolvimento de uma vacina contra a cocaína representa um passo crítico e inovador na luta contra a dependência de cocaína e o narcotráfico, com potencial para revolucionar o tratamento do abuso de cocaína.
WIGO Takeaway: Esta é uma ocasião histórica, pois estamos testemunhando a criação da primeira vacina contra uma substância, e não uma doença. Isso inevitavelmente levanta debates éticos: até que ponto devemos influenciar o que uma pessoa pode sentir ou experimentar ao usar uma substância?
Além dos dilemas éticos, o principal desafio é produzir uma quantidade suficiente de anticorpos para bloquear a maior parte ou toda a substância no sangue. Se o usuário aumentar a dose para superar a ação dos anticorpos e ainda assim alcançar o efeito eufórico da cocaína, a substância ainda terá os mesmos efeitos em outros órgãos, como o coração e os vasos sanguíneos, o que pode levar a uma overdose. Portanto, além de garantir que a vacina realmente bloqueie a molécula da droga, é necessário também garantir que haja uma titulação sanguínea suficiente para que a pessoa não consiga sentir prazer mesmo aumentando a dose de ingestão. Só assim a vacina poderia ser considerada segura, ainda que com várias ressalvas.
Um ponto que pode ajudar é a evolução das vacinas de mRNA, impulsionada pela pandemia, podendo acelerar o desenvolvimento desta vacina. O uso do mRNA têm a vantagem de serem mais rápidas e mais baratas para produzir do que as vacinas tradicionais. Elas podem ser facilmente ajustadas para combater diferentes substâncias, o que pode ser útil no desenvolvimento de uma vacina eficaz contra a cocaína. No entanto, ainda há muitos desafios a serem superados, incluindo garantir que a vacina seja segura e eficaz, e lidar com as complexas questões éticas que surgem ao se desenvolver uma vacina contra uma substância e não uma doença.
Neko Health - A startup de saude do fundador do Spotify

O fundador do Spotify agora investe pesado em medicina preventiva, a Neko Health, uma startup de tecnologia médica co-fundada pelo Daniel Ek, conseguiu recentemente levantar 65,4 milhões de dólares em uma rodada de financiamento Série A, liderada por investidores renomados como Lakestar. Essa injeção de capital permitirá que a empresa estenda seus serviços revolucionários para além das fronteiras da Suécia, seu mercado de origem. Esse valor é impressionante pela situação atual do mercado de capital de risco nos EUA.
A solução inovadora da Neko Health consiste em exames corporais completos que coletam 50 milhões de pontos de dados de saúde em 10 minutos. Esses exames, que são sempre seguidos por uma consulta médica, utilizam tecnologia de ponta para fornecer imagens em 3D e térmicas de alta resolução do corpo inteiro. A empresa está investindo da medicina preventiva, com o objetivo de tornar os check-ups abrangentes mais acessíveis e convenientes.
O entusiasmo pelo serviço da Neko Health é evidenciado pela demanda avassaladora. As primeiras consultas para seus exames, com um custo de cerca de 272 dólares, esgotaram-se em menos de duas horas, e atualmente há mais de 10.000 pessoas na lista de espera. Esse fenômeno destaca o crescente interesse dos consumidores em exames preventivos abrangentes baseados em tecnologia.
A Neko Health planeja utilizar os novos recursos para acelerar sua expansão internacional, com a Europa como ponto de partida. A startup representa uma tentativa disruptiva de alavancar a tecnologia para aprimorar a detecção precoce de doenças e melhorar os resultados para os pacientes.
Além disso, a Neko Health está envolvida em estudos interessantes, como o DermaFlow Alpha, que avalia o potencial de uma tecnologia de imagem multimodal para rastreio e detecção precoce de doenças. O estudo Cardio Alpha explora uma tecnologia a laser para medir a rigidez arterial e o risco cardiovascular, enquanto o estudo Spectrum 1 avalia um dispositivo que projeta padrões na pele para detectar problemas microcirculatórios precocemente.
Com o apoio de investidores de peso, como o co-fundador do Skype, Niklas Zennstrom, através de seu veículo Atomico, e Klaus Hommels da Lakestar, a Neko Health está bem posicionada para escalar rapidamente à medida que expande para novos mercados. Sua tecnologia tem o potencial de mudar fundamentalmente a natureza dos testes de deteção precoce e preventivos, capitalizando a crescente demanda por serviços de saúde baseados em tecnologia.
WIGO Takeaway: O uso de câmeras de alta resolução e sensores térmicos para detecção de doenças e lesões de pele, estetoscopia eletrônica com análise por IA de sons cardíacos e pulmonares, e a avaliação de oxigenação sanguínea e análise de níveis específicos de hemoglobina no sangue não são nenhuma novidade. Porém, o que é inovador na abordagem da Neko é a avaliação em conjunto com o uso de large language models AI, o que pode ser impactante.
No entanto, como médico, é natural encarar com ceticismo empresas que prometem revolucionar a saúde. A saúde não se revoluciona; ela evolui aos poucos. O ser humano tem uma tendência de adorar a novidade, que sempre parece melhor do que os métodos tradicionais aos olhos, mas é preciso ver os dados científicos para estar convencido.
O ambiente de startups e capital de risco é repleto de promessas que não são entregues. Portanto, só estaremos convencidos quando tivermos acesso a dados científicos que comprovem a detecção precoce de doenças com essas análises integradas. Como diria a minha avó: "Falar até papagaio fala, quero ver entregar." Temos que equilibrar o entusiasmo pela inovação com a necessidade de rigor e responsabilidade na prática médica.
Veremos cenas dos próximos capítulos :)
Se você tiver alguma sugestão ou informação que acha que pode ser publicada nos envia um e-mail para [email protected]
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